quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A árdua tarefa de ser gremista

Tem pelo menos uns 10 anos que o Grêmio não vence nada de relevante. De 2001 pra cá, o único título nacional foi o da série B, em 2006. Desde então, a imortalidade tricolor vem sendo evocada até em empates com o Caxias, como na final do primeiro turno do campeonato gaúcho. A imortalidade já virou piada para colorado rir adoidado... e com razão.

Do outro lado, desde 2006, os colorados empilham taças. A atual fase vermelha, é semelhante a vivida pelo tricolor nos anos 90. Tudo que o Internacional toca vira ouro, tal como midas, tudo dá certo sempre. Tudo que o Grêmio toca vira piada, desalento e desespero.

Tanto que eu simplesmente desisti até mesmo de secar o co-irmão. Simplesmente pelo fato de que isso não faz mais o mínimo sentido. A única coisa que o Grêmio disputa é a permanência na série A, e os vermelhos jogam outro campeonato. O desespero é tanto, que assistimos aos jogos, já esperando qual será a próxima besteira. A fase é tão absurda, que empate fora de casa com o atlético-GO vira bom resultado, mas aí vem a besteira, um gol aos 45 do segundo tempo, e voltamos pra casa com uma mão na frente e outra atrás.

Estou fazendo o que todo gremista deveria fazer, cuidando do que importa, o Grêmio. O que acontece entre a avenida Padre Cacique e a Edivaldo Pereira Paiva não é problema nosso. Aliás, a direção gremista deveria aprender isso. Inclusive, a direção precisa deixar de lado o ego, parar de brigar por divergências políticas, e levar o Grêmio ao seu lugar de direito.

O gremista está ferido de morte, cambaleando. O clube chafurda na lama egóica de dirigentes que pretenciosamente querem ser maiores do que um clube com quase 108 anos de história. E a muleta atual é a arena. De que vale uma arena para um time da série B?

Ontem ouvi um colorado dizer no rádio que é maravilhoso ser colorado. Eu digo aqui, que é muito difícil ser gremista, sobretudo nos últimos anos. Eu não desisto, sou orgulhoso do manto, mas realmente algumas pessoas não merecem estar onde estão.

Chega de tanta mediocridade!

sábado, 13 de agosto de 2011

Vila!

Foi lá, num lugarejo esquecido do mundo entre suas ruas de chão batido, grandes e velhos casarões recheados de histórias, e sua população composta em maior parte por pessoas simples, como lavradores e peões, onde o tempo parecia não passar, o pedaço de chão onde vivi minha infância.

Para o menino que eu fui, era um paraíso, um verdadeiro reino encantado. O maior perigo era ser picado por uma abelha, e o que demais terrível podia acontecer, era meter o pé em esterco bovino (popularmente conhecido como bosta de vaca).

Meus pais se mudaram para lá quando eu tinha em torno de dois anos. Lá eu vivi minha infância em plenitude, com liberdade, liberdade esta que hoje é tão rara até mesmo em pequenas cidades. Neste cantinho do mundo de meu Deus, minha mãe sempre sabia onde e com quem estava, mesmo que na época celular não existisse nem em pensamentos. Aliás, telefone, só havia um, via rádio, que era utilizado por quem quisesse (e pagasse, claro), e cuja telefonista era minha própria mãe.

Além do fato de a atividade de comentar os fatos da vida alheia (ou seja, fofoca) fosse largamente praticado por lá, o motivo da minha mãe saber sempre de mim, era o de que todos se conheciam, e cuidavam (as vezes um pouco demais é bem verdade) do que os demais faziam, e isso incluía as crianças, claro.

As pessoas que conheço a mais tempo (ao menos de que me lembro), em grande parte ainda vive lá. São os mesmos que ficam olhando meio admirados, de soslaio e de longe, no que aquele gurizinho com cabelinho cortado no maior estilo índio, se tornou. São pessoas que me viram "largando as fraldas", que me viram andando de bicicleta para baixo e para cima, jogando bola na praça, dançando no CTG. Pessoas que até hoje dizem "mas aquele gurizinho tão pequeninho"! Vá lá que eu não sou lá muito grande, mas dá pra notar a diferença.

São pessoas que me conhecem, que se recordam de mim. Pessoas a quem a fisionomia não me é estranha, mas que não me lembro do nome em sua grande maioria. É uma relação diferente. Eu não tenho o costume de abordar quem quer que seja, e perguntar se esse alguém me conhece, e então eu vou passando.

Este é o lugar da minha infância, rodeado de campos e bois, com meia-dúzia de ruas onde passavam meia-dúzia de carros por dia. Eu amava aquela vila, sonhava em viver lá para sempre. Aliás, o menino que eu fui ainda ama, pois não há um dia sequer em que eu deixe de pensar um pouco sequer naquele pedaço de terra.

Me sinto feliz em dizer que tive a infância, que toda criança mereceria ter, uma infância sem grades, sem portões eletrônicos, sem câmeras de vigilância. Era apenas um menino olhando as imensidões de campo em redor, frequentando a Escola Estadual de 1º Grau Moisés Viana desde o ano de 1989, e brincando, brincando a vida como toda criança mereceria brincar a sua vida.

Falo do 3º Distrito, que dista 43 km (ou algo assim) da sede do município, Santiago. Falo da vila que já foi Flores, que por longos anos teve seu destacamento da Brigada Militar, comando pelo CB Jorge Auri Moraes La Roque, meu pai, hoje aposentado 1º Ten da Reserva, que por muitos anos também foi patrão do CTG, sempre ladeado por dona Rita Teresa Dorneles La Roque, minha mãe, sempre pronta para as lides nas festividades daquela sociedade tradicionalista, e sempre atenta a mim, único filho a época.

Falo da que chamam comumente, apenas vila mesmo. Vila do senhor Sadi Rosa e da dona Zoleida e seus filhos, um deles meu amigo de infância. Vila do Senhor Salvador Cardoso, da dona Mara, e de seus filhos, dos quais o mais velho eu conheci com alguns dias, e do qual meus pais são padrinhos. Vila do "nêgo tabaco", do "mindo do busão", do Valdoci e da Liliane, do Dari e da Gessi e de seus filhos.

Vila!

Lembro do seu Generoso e da dona Mimosa, muito idosos quando eu ainda era menino. Eu ia muito lá, seu gegê tocava violino e me contava história do tempo antigo, dona mimosa me dava lá algo de comer, e tinha a filha deles, também já de idade avançada. Seu generoso era meu amigo, aliás, é, pois sei que ele está vivo, seja onde estiver. Lembro com carinho de quando ele me chamava de sarapico.

Vila!

Lembro de quanto carinho eu recebi lá. Vila do "tura" e da Rita e de tantos outros personagens de minha infância. Vila que não concebo mais como lugar para viver em minha adultez, mas que foi perfeita para minha infância, e que seria perfeita para tantas outras crianças ao redor do mundo. De repente me dou conta do quanto fui mal-agradecido tantas vezes, sem notar o que Deus me deu de bom grado e que tantos outros não tem nem em sonho.

O ser humano é assim, custa a enxergar o que recebe de bom e se esforça em enaltecer o que de ruim aconteceu. Será que não está na hora dessa consciência mudar?

Não sei se alguém vai ler isso que escrevi, pelo menos dentre as pessoas que me conhecem desde então, mas gostaria de deixar aqui meu agradecimento por tudo. Estas pessoas simples fizeram e fazem parte da minha vida, e jamais serão esquecidas, mesmo que eu não me lembre de seus nomes, ou não tenha me ocorrido escrever no texto.
Vila!

Vila Florida, o lugar da minha infância, lugarejo esquecido no mundo...

"pr'onde eu voltar qualquer dia, a qualquer hora" (Luis Carlos Borges), mesmo que apenas a passeio.