Dias atrás me envolvi numa discussão acalorada no facebook, diante de uma postagem de uma ex-colega de faculdade, indignada pelo fato de ter sido preterida para o curso de medicina da UFRGS, em função das cotas raciais e para oriundos de escola pública. Evidentemente ela acha absurdo, o fato de algumas pessoas, pelo "simples" fato de não terem melhor acesso a formação adequada, acabarem ingressando em curso de alta concorrência de uma universidade federal.
Tenho cá minhas opiniões sobre o assunto, que são divergentes das opiniões dela, carregadas de um ranso elitista, o mesmo que ainda preenche lamentavelmente as mentes de grande parte da população, sobretudo das que nasceram e vivem ao sul do país. Levar esse tipo de discussão adiante, é o mesmo que tentar fazer com que gremistas e colorados cheguem a um concenso de sobre quem é melhor, mas é sempre interessante ler, nas entrelinhas das opiniões, o quão arraigado está o preconceito social e racial, a sociedade brasileira.
Fica difícil lembrar-se das dificuldades vividas por aqueles que por anos foram deixados de lado, em favor da minoria elitista, sem ter sofrido tais efeitos. É um tanto complicado (ou talvez nem tanto), imaginar que ex-cativos, sem nenhuma instrução e estrutura, foram feitos homens e mulheres livres, no melhor estilo "a bangú" (usando um termo portoalegrense), e o quanto até hoje seus descendentes sofrem os efeitos deste descaso.
Então aos adeptos do palavrório decorado "ao invés de dar o peixe, ensinar a pescar", implementado pela direita na eleição de 2002, e que acabou virando até promessa de 13ª para o bolsa-família em 2010, lembrem-se: Quem disse que eles tem dinheiro para comprar o caniço e as linhas de pescar? E será que eles têm força para puxar o peixe da água?
É por causa desse tipo de argumento sem-vergonha, que a direita vai definhando (graças a Deus), por estes brasis a fora. O espaço se apequena pra gente que só quer governar para meia-dúzia. Espero ansioso pelo dia em que meus conterrâneos aprenderão essa preciosa lição.