segunda-feira, 28 de março de 2011

Águas plácidas

O marinheiro, já com alguma experiência, navega nos últimos tempos por águas diferentes das de outrora. Acostumado a fortes ondas e tempestades em mar arredio, agora conduz seu barco em mar calmo. A placidez destas águas lhe traz tranquilidade, lhe confere paz. Estas águas de agora nem de longe lembram as antigas, e isso em dados momentos até o deixa confuso. O marujo não está habituado a calmaria, e aos poucos se acostuma com ela, sem assim deixar de sentir falta de algo, que só o mar bravo lhe proporcionara.

Como explicar esse amor não correspondido entre o marinheiro e o mar revolto? Este mar, repleto de tempestades, ventanias, ondas gigantescas e criaturas que ele jamais conseguira sobrepujar, e tão somente tratava de compreendê-las, benevolente e paciencioso. Quantas e quantas vezes esteve praticamente a deriva a ponto de naufragar, quando de repente o temporal estiava, e o marujo prosseguia, tentando dominá-lo, sem jamais conseguir seu intento. Mar forte, marcante, que lhe deixou na memória imagens lindas, mas que em contra-partida fora em muitos outros momentos destruidor.

Ao pensar nisso tudo, o marujo avalia erros e acertos, lembrando que como diz Nando Reis "erros e acertos são filhos do mesmo pai". Pensa também nas águas que agora explora, nunca dantes navegadas, se enternece de sua calma e calidez, que se transformam em afago quando a brisa lhe toca. Dizem os sábios que águas calmas são profundas, então, o que esconderão elas de surpresas e prazeres? Ademais, de que adianta pensar nas águas antigas, se estas já lhe deram aquilo que podiam: muito prazer, muitas agruras e um sentimento capenga por não correspondido, e muitas vezes desprezado.

Ao analisar isto, sente-se como Joquin de Vítor Ramil, em sua "nau da loucura, no mar das idéias", ou como na voz de Teddy Correia, ao cantar que "no fundo eu amei por nós dois". Sorrindo amarelo, lembra-se das palavras de Raul Seixas, dizendo que "um sonho que se sonha só, é só um sonho que sonha só". Deus, quantas evidências de que aquele mar não era para ele, mas ainda fica no ar algum resquício, algum porém, "ah porém" (Marcelo D2), e este porém paira como nuvem sobre o cabeça do velho marinheiro. Mesmo diante de tantos desencantos, algo parece dizer que ele terá outra oportunidade de navegar aquelas águas novamente, e ao mesmo tempo duas perguntas: valerá a pena? E não estará o marinheiro reculutando - parafraseando João Chagas  Leite - lembranças, fios de esperanças e cacos de um amor-próprio que a muito se esvaiu de si? Para Wilson Paim seriam "Nacos de apegos". Mas o que há com este homem? Que insistência impertinente, mesmo diante das evidências.

O ego se infla ao lembrar-se que, até onde sabe, aquelas águas jamais conheceram marinheiro tão bravo. Ah, o bendito ego, que só serve para expôr o pior de dentro dos seres humanos. Pensando nisso, crê que aí está a resposta para tal insistência, a idéia fixa (e arrogante, mesquinha), de quem por lá navegue não se compare a si. Idéia ridícula, frívola e acima de tudo danosa principalmente para ele. Mesmo que tenha razão, Paulinho da Viola lembra que "não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar, é ele que me carrega como se fosse levar"

O mar escolhe o marinheiro a seu gosto, deixa seguir adiante, ou naufraga as embarcações que lhe convier.

O mar bravo já fez sua escolha, e mesmo que mude de idéia, já merece a tempos ser posto de lado, não esquecido, mas minorado em importância. Deixe ele no coração do marujo as boas lembranças, leve consigo as más, e siga com suas imensas e voluptuosas ondas, arrasando ou acalentando quem mais houver.

O mar calmo o acolhe de braços abertos, aceita ser explorado, se mostra solicito e amoroso. Suas características tão ímpares se comparadas as outras águas, são também de certo modo intrigantes e instigam a navegação exploratória. Então, qual o motivo para não fazê-lo?

Bravo marinheiro! A cabeça faz as escolhas, cabe ao coração aceitar ou não. Não lute contra nenhum dos dois, apenas deixe ser o que tiver de ser. A vida é sábia, e constantemente está a nos ensinar lições, algumas duras, árduas, mas que cedo ou tarde se reconhece necessárias.

Então, segue navegando, de coração aberto e mãos firmes segurando o timão, até descobrir em quais águas navegará logo adiante.
---------------------------------------------------------------------------

E você, identifica-se com o marinheiro, com o mar bravo, ou com o mar calmo? O texto trata do amor de um marinheiro pelas aventuras e desventuras em águas bravias, e sobre a dificuldade de se habituar em outras águas tão mais calmas (muito embora estas o façam sentir-se muito bem), mas bem poderia tratar-se de relações humanas.

Que Deus abençoe a todos nós, mares e marinheiros.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Os sonhos

Noite passada (digo, dia passado, já que trabalho a noite e durmo de dia, no maior estilo coruja), tive um sonho, daquele tipo inusitado, mas que nem por isso deixa de ser bom.

Dizem que os olhos são os espelhos da alma, e seguindo esse raciocínio, o que serão então os sonhos? Digo que dentre outras coisas, são algumas vezes viagens astrais (das quais pouco lembramos) e manifestações do inconsciente, que trazem a luz pensamentos e quereres represados (muitas vezes por força das circunstâncias), bem como emoções e medos, contidos muitas vezes no nosso mais íntimo.

O sonho foi muito bom (muito embora não esperasse, mas e como prever o que se sonha? Impossível!). Sonhei com algo que dificilmente realizarse-á, mas como seria bom se isso acontecesse.

Enfim, assim é a vida. Quem sabe não era mesmo pra ficar só no sonho, no ideário?

Alguns sonhos se realizam... será o caso desse?
Outros sonhos jamais se concretizam... acontecerá dessa forma?

O tempo... ah, o tempo! Só o que não pode é, nesse tempo, que os atores desses sonhos esqueçam-se de VIVER!

Em tempo: este texto é uma obra de ficção, qualquer semelhança com fatos verídicos é mera coincidência... ou talvez uma mera verdade... ou uma coincidência verídica... ora, quem não já teve um sonho nestes termos a que me referi no texto supra-citado? Faça aí sua avaliação e tire suas conclusões... ah, e se for possível faça acontecer, afinal, um sonho realizado é sempre bem vindo.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Portinho

Outrora Porto dos Casais, quando da colonização açoriana; hoje Porto Alegre, capital dos gaúchos, orgulho de todos nós; para os que a amam intimamente chamada "portinho". Portinho da noite agitada, da cultura, do pôr-do-sol no gasômetro, portinho dos universitários do interior ou de outras plagas, que como eu lá viveram, ou como tantos que lá vivem.

Quem conhece Porto Alegre entende o que eu falo, quem ama Porto Alegre, simplesmente sente, afinal sentimento não é algo que se explique, apenas se vive. Meu porto das longas avenidas, das multidões, dos grenais, dos bares, da redenção, do teatro São Pedro, do mercado público, dos largos e praças, dos amores e desamores. Porto que te quero sempre alegre.

Confesso que esse amor nem sempre esteve em mim. Confesso que levei tempo para dar o braço a torcer, e hoje poder dizer que amo essa cidade, como se nela tivesse nascido. Porto dos grandes amigos, porto das noites insones, tomando chimarrão até o sol nascer, porto das boas conversas, porto das risadas, porto do pranto, porto da dor, porto de consolo, em cada esquina, a cada dia, a cada aprendizado... meu portinho!

Porto da minha mãe UFRGS, da minha eterna CEU onde vivi por cinco anos, e onde fiz amizades e conheci pessoas que jamais sonhei. Porto da Borges de Medeiros, da Loureiro da Silva, da Lima e Silva, da José do Patrocínio, da Padre Cacique, da Carlos Barbosa e outras tantas. Porto do natalício, do cavanhas, do Zaffari na correria antes de fechar as 23h, e poder comprar Coca-cola e pão, Porto do Bar Opinião, Porto da Banda da Saldanha e da Itinerante, Porto das plagas do imortal, meu estádio olímpíco, santuário de glórias do tricolor gaúcho.

Porto Alegre que aprendi a amar como se natural dela fosse. Porto Alegre que agora enche meus olhos d'água, lembrando do que nela vivi, lembrando das pessoas que fizeram parte do meu dia-a-dia, e que hoje vivem na minha lembrança. Amigos-irmãos, que me aguentaram, que me ajudaram, e que me ensinaram muito mais do que aprenderam comigo.

Próxima de completar 239 anos, és ainda menina, trigueira e apaixonante. Agitada, insinuante, desafiadora. Aí está a explicação para despertar tantos amores, afinal, como resistir a uma jovem senhora dotada de tantos encantos?

Por ti hoje choro de saudade, meu portinho.

Portinho pra onde volto um dia, para desfrutar do que proporcionas a teu milhão e meio de moradores.

Parabéns Porto Alegre!

Obrigado Porto Alegre!

quarta-feira, 16 de março de 2011

E de repente é assim

É espantoso como a vida age. E mais espantoso ainda é como os seres humanos relutam em aceitar os seus designeos.

Ela é bem mais sábia do que todos nós, resta deixar de lado a arrogância e aceitar.

Agora cada um segue seu caminho. Dois pra lá, dois pra cá, como diria Elis.

E o futuro? Este a  Deus pertence, e nele eu confio. Toca a mim viver a vida, e a ele me conduzir.

Sejamos felizes,

Vida que segue e se renova,

Obrigado por tudo, tudo mesmo, de coração...