A missão de ser pai é séria, árdua e impõe desafios. O espiritismo ensina que o nascimento é o grande marco da reencarnação. A fecundação é o aceite da missão de receber um espírito que retorna a vida terrena, para mais uma existência repleta de novas provas. A missão dos pais é proteger, auxiliar e encaminhar este espírito nesta nova vida. Para facilitar essa árdua missão, o espírito retorna criança, dotado de um corpo débil, frágil e indefeso, com suas características de outras vidas entorpecidas (como nos mostra o Evangelho segundo o espiritismo). Assim, os pais tem uma possibilidade maior de passar a essa criança bons valores, para que aproveite sua existência da forma mais plena possível, dando seguimento a evolução a qual todos nós perseguimos.
Mesmo com isso, a missão segue não sendo fácil. Uma criança exige dedicação quase que exclusiva e um bocado de paciência (isso sem mencionar outras tantas coisas). E é no meio deste turbilhão que muitos se perdem, e tantas existências degringolam por falta de orientação.
O mundo atual dificulta muito a realização de todas as tarefas em 24 horas, parece que o dia está mais curto. Nos dias de hoje, o casal geralmentre precisa trabalhar fora para dar conta das despesas de casa, num cenário diverso do que se apresentava a décadas atrás, quando apenas o pai (geralmente, é claro) era o provedor, e a mulher dedicava-se as prendas do lar. O anos passam, e as mulheres conquistam espaço e não sem mérito. Cada vez mais saem de casa pra trabalhar, e hoje formam representativa parcela de chefes de família.
O fato é que tanto para homens quanto para mulheres falta tempo, e isso demanda abrir mão de alguns afazeres. Muitas vezes eles abdicam de ser pais! Abdicam de ser pais, no sentido de que tentam compensar as longas ausências, permitindo aos pequenos todas as regalias possíveis. Esquecem-se do duro, mas necessário dever: saber dizer não!
Permitir tudo não é certo no meu entender de educador. A vida não é assim fácil, não dá tudo na mão, e acima de tudo, o mundo lá fora não possui essa bondade paterna. Esse tipo de atitude não compensa absolutamente nada, e ainda produz crianças mimadas, que serão adultos mimados, despreparados para as durezas da vida diária. Eu não sou pai, mas para mim é ponto certo que, quando chegar minha hora, não vou me furtar ao meu dever de pai, de me fazer presente, de um jeito ou de outro, e de dizer não quando necessário, por mais que isto provoque raiva. Afinal, ser pai/mãe não é padecer no paraíso? Faz-se necessário lidar com isso. Minha mãe diz que perceber a raiva no olhar de um filho é a pior coisa que existe, mas ainda assim ela não se furtou ao seu dever. Se for necessário ser um pai "ruim", eu serei.
Não caia no sentimento de culpa, mantenha o foco no futuro, no tipo de pessoa que você está querendo formar. Sua existência terrena não é eterna, não viverá para proteger seu pimpolho sempre, e o mundo não tem pena. Sem contar que conviver com uma criatura mimada é algo insuportável. Reflita, compare a relação custo-benefício, lembre-se da sua responsabilidade de formador. Por mais que seja dolorido, amar também é ter de fazer concessões. Será que seu filho não merece esse sacrifício?