Fui batizado católico, numa igrejinha da minha cidade natal, Santiago, na região noroeste gaúcha, mas jamais passei desse rito no catolicismo. Em 27 anos de vida, não sei se somo uma missa por ano, e atualmente só piso em igrejas em velórios ou casamentos, já que com esse currículo dificilmente vou ser convidado para batizar alguém em uma igreja.
João Paulo II era para mim a própria imagem da bondade. Gosto muito dele e isso não é hipocrisia, pelo simples fato de que odeio essa palavra e mais ainda seu significado. Jamais me esquecerei daquela figura carismática, arqueada pelos anos, cabelos brancos com flocos de neve. Era um espírito bom, e para mim ele é a melhor lembrança, aliás a única boa lembrança que levo desta religião. Tudo bem que além desse, só conheci mais um papa, o Ratzinger, pelo qual não nutro nenhum tipo de simpatia, aliás, antes disso aversão, e sei que não estou sozinho
Nunca, eu disse, nunca, me encontrei em um templo católico. Achei sempre, e ainda acho excessivamente ostensiva em sua forma, abusando de quadros e estátuas de santos e santas, e adorando uma cruz de madeira, posto que o Jesus, coitado, é menos visto nelas do que o símbolo de seu martírio (há quem diga que era uma estaca, mas isso não vem ao caso agora). Isso eu nunca entendi, mas me pergunto desde cedo, e ninguém consegue fazer mais do que gaguejar ao tentar me explicar.
Outra coisa que sempre me incomodou, e que hoje em dia me incomoda ainda mais, diante de tudo o que aprendi ao longo de minha vida, foram os dogmas hipócritas, pregados pelos homens (não por Deus), que têm a intenção de reger a vida de seus fiéis. São contra tudo. A bíblia só serve para ficar em casa fechada, juntando poeira, pois em missas não se utiliza (fui poucas vezes mas eu lembro). O livro sagrado é repleto de lições, é repleto de sabedoria. Alguns homens fazem uso deste livro para tentar conduzir seres humanos como se fossem gado, a sua vontade, do seu jeito. A igreja católica não se atualiza, seus modos são os mesmos desde a idade média (pelo menos). Seus representantes pregam uma coisa e fazem outra, desmontando e desmoralizando-a. Preferem ver seres humanos se contaminando com HIV do que aceitar o uso de preservativo, e justificam dizendo que Deus diz que o sexo só deve acontecer depois do casamento. Acontece que Deus deu livre arbítrio aos seus filhos. Cada um de nós sobre a terra é livre para fazer o que quiser, até mesmo o mal, até mesmo transar com quantas pessoas quiser, do sexo oposto ou não, com uma de cada vez ou com várias por vez. Mas o livre arbítrio, nos trás também algo importante: responsabilidade. Cada atitude nossa é nossa responsabilidade, e por cada uma delas iremos responder, nessa, ou em outras vidas. Deus quer seus filhos felizes, fazendo o bem. Deus não é um deus de raiva, e sim de amor, mas o vaticano leva esse Deus a seus fiéis.
Nada contra os católicos, nada mesmo. Tenho parentes católicos, e respeito a liberdade de culto. Tudo o que tenho dito só vem a explicar a minha relação com o espiritismo, o motivo de ser espírita.
Espiritismo não é religião
O espiritismo é uma filosofia, não uma religião. Tanto que nenhuma pessoa é batizada, e ninguém precisa deixar de ser católico, evangélico, umbandista ou seja lá o que for para frequentar uma casa espírita. Ninguém é convertido. Todos são bem vindos. São casas de paz, onde se recebe instruções dos espíritos através dos médiuns, onde se recebe tratamento e consolo. O espiritismo fala sobre o livre arbítrio, e nos mostra que somos responsáveis pelo que fazemos e que cedo ou tarde responderemos pelas atitudes erradas. O espiritismo nos prova que Deus é bom, e que sua bondade e amor são infinitos, e que a prova disso são as muitas vidas que nos permite viver para expiar nossas culpas, provar nossas mudanças e avançar rumo a fase angelical*, rumo ao conhecimento pleno, ao amor verdadeiro. O espiritismo diz que fora da caridade não há salvação, não que fora do espiritismo não há salvação. Não se arvora dono da verdade, nem diz que qualquer um que se diga espirita é perfeito. Não se acha melhor do que os outros. O espiritismo dá a certeza de que encontraremos um dia as pessoas que amamos e que partiram antes de nós. O espiritismo não vende lugar no céu, nem dá consagração na manhã de domingo a quantos que saem da farra, direto para o templo, e que mais tarde são os primeiros a falar impropérios. Ele vai uma vez por semana a igreja, portanto, se limpa dos pecados e pode apontar qualquer que seja com seu dedo sujo, dizendo quem presta ou não.
Eu gosto de pensar, e não de ser conduzido. Gosto de entender o motivo das coisas, e não acho que alguém de cima de um púlpito seja o dono da verdade e o portador da virtude. Como pode alguém que não se casa aconselhar a vida familiar? Muitas pessoas preferem seguir este caminho por ser mais simples, exige menos, e não vou criticar, cada um sabe de si, cada um tem seu tempo e seu estágio... e isso foi o espiritismo que me ensinou e não me deixa esquecer por nenhum segundo.
Por isso escolhi o espiritismo, e a cada dia tantos mais fazem o mesmo. Fazer o bem sem olhar a quem, amar o próximo como a si mesmo são coisas difíceis, e em alguns lugares são dispensáveis, principalmente diante de doações vultuosas para os cofres "sagrados". Engraçado e que na hora da reforma ou construção, não vem um centavo do "comando", tudo sai do bolso dos fiéis.
Cada um escolhe seu caminho. Mais curto, ou mais longo, todos chegarão ao mesmo lugar.
*Todos os humanos passaram por fases evolutivas até chegarem a condição humana. Começando pela fase vegetal, passando pela animal, estando na hominal, e galgando os degraus que o levam até a angelical. Todos seremos espíritos de luz um dia. É isso que o homem procura na terra, não tem nada a ver com riqueza material, e sim espiritual.